terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Dois mil inove em resumo


Fazendo um balanço tradicional (e inevitável)
do ano que me passou (e já pensando no que virá),
de fato como diz o slogan (aquele do Banco)
foi um ano de profundas inovações: (e renovações também)
veio o primeiro emprego (um que podia ser chamado assim),
com oito horas de ocupação por dia (nem tão ocupadas assim),
achei que deveria também ocupar o resto da vida (como se não estivesse)
então larguei uma relação normal, chata e monótona (era que eu achava),
pra me jogar noutra relação duas semanas depois (que era ainda pior),
então fui percebendo o quão antipático eu era (ainda sou um pouquinho).
Falando em o que sou (olha a pretensão falando alto)
decidi ser muito mais franco comigo (e menos com as pessoas),
por isso passei a falar bem menos (e escrever muito mais),
aí nasceu um certo blog (duma gravidez de risco),
que serviu de suporte (uma viga de aço praticamente)
para um monte de coisas que eu queria dizer (e acabei escrevendo),
então percebi que tinha uma habilidadezinha para escrita (continua a modéstia),
e com a boa escrita vieram pessoas (chegaram que eu nem percebi)
que ficaram tão próximas do coração (apesar da distância geográfica).
Então essas pessoas transformaram-se em amigos (o que não foi difícil)
e nas palavras que trocamos (as palavras transformaram-se em sentimentos)
fez-me aflorar novos sentidos (que na verdade eram antigos)
e assim re-descobri a força e coragem (e venci a tristeza e loucura)
então oito meses depois (mas que pareceram 8 anos)
voltei para a relação do início (ou reiniciei a relação),
já não achando mais normal, chata ou monótona (isso na verdade era eu),
por isso pedi desculpas (e as recebi também),
e me dediquei a tratar as feridas (que não eram poucas),
daquele Grande Amor (ainda bem que não era tarde demais).
Aí percebi a minha magalomania (só EU não tinha percebido)
com isso também descobri uma certa profissão (que virou objetivo de vida),
então esqueci a arte (pelo menos momentaneamente)
mas nem por isso deixei de aceitar (e fazer por conseguinte)
minha estréia no Da Paz e na tela grande (fechando com chave de ouro).
E assim, de forma concisa (ou seria confusa?)
termina aqui meu resumo... (outro só ano que vem!)

A todos que leram este blog desejo um feliz 2010. Que seja do prólogo ao epílogo deste novo ano um conto cheio de alegria, paz e saúde; e o clímax de sua historia seja felicidade e sucesso que você irá resumir num sorriso!
FELIZ ANO NOVO!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Diálogo Truncado


- O que você tem hoje?
- Nada não, só estou um pouco triste.
- Triste por quê?
- Ontem minha avó caiu da escada e eu acho que vai demorar um pouco para ela ficar boa.
- Eu não sabia.
- É, foi uma queda e tanto, ela estava distraída e pisou em falso num dos degraus, não sei muito bem como aconteceu, foi muito rápido, acho que ela estava meio sonolenta, devia estar dormindo, levantou pra fazer xixi e pimba! Caiu da escada.
- Que azar!
- Não, não fale azar! Fale que falta de sorte!
- Que falta de sorte da sua avó, hein?
- Sim, que falta de sorte...
- Pois é.

- E você?
- Eu o que?
- Você está bem?
- Acho que estou bem, se não fosse por essa notícia agora.
- Você realmente gosta tanto da minha avó assim?
- Eu nem bem conheço a sua avó.
- Então não fique triste pelo acontecido, você não tem nada a ver com isso.
- É que tenho uma imensa pena das velhinhas que caem de escadas; diga-me uma coisa, ela rolou ou foi se batendo na mesma posição até o último degrau?
- Foi cambaleante, não chegou a dar uma cambalhota inteira, mas se bateu bastante.
- Lamentável.
- E antes de chegar ao último degrau ela gritou: eureca!
- Foi?
- Sim, porque fez uma grande descoberta enquanto sofria o acidente.
- Ela deve ter batido muitas vezes a cabeça e isso deixou seus neurônios funcionando de maneira mais brilhante.
- Pode ser, os médicos não falaram nada a respeito.
- E qual foi a grande descoberta?
- Não sabemos, ela entrou em coma antes de nos dizer.
- É uma pena mesmo, ainda mais sabendo que nos dias de hoje a venda de uma grande descoberta vale muito dinheiro.
- Sim, eu também pensei nisso, acho que este é o maior motivo da minha tristeza.
- Sua família é muito pobre?
- É
- Muito pobre como?
- Dificilmente meu pai se senta à mesa para comer com todo mundo e meu irmão tem muitas namoradas, minha mãe adora assistir as novelas do canal católico, meu avô tem uma coleção de latinhas de refrigerante antigas e minha avó estava pegando as prestações do clube da pré-morte de um cemitério para terceira idade.
- Muito pobre.
- Sim, e a pior de todas é a minha pobreza.
- E qual é?
- Eu escrevo cartas de amor para um antigo namorado que sumiu no mundo.
- E ele as recebe?
- Sim, onde quer que esteja. Ele está juntando inspiração para escrever uma carta-resposta me perdoando.
- O que você fez para precisar se perdoada?
- Quando resolveu ir embora, eu escondi o único mapa que ele tinha.
- E por que ele resolveu ir embora?
- Porque é um crápula que estava apaixonado por uma aeromoça.
- Você é aeromoça?
- Não.
- Bom.
- Mas ele não tinha dinheiro para segui-la de avião, então foi de asa delta.
- Entendo.
- Todo dia eu mando uma carta pra ele, comprei um pombo para voar bem alto e amarei na patinha dele uma espécie de fio que leva uma bolsinha, é lá que eu ponho a mensagem. O pombo sempre vem sem nada amarrado e com a imagem dele nos olhos.
- É um bom pombo.
- Sim, é.
- Espero que sua avó fique bem.
- Eu também
- Agora preciso ir.
- Eu também.
- Então foi muito bom falar com você.
- Igualmente.
- Igualmente.
- Você é sempre assim, de poucas palavras?


"Você não entende que me atirei no abismo do teu coração e me fiz testemunha da mais ingrata verdade. Assim eu me fiz durante a vida toda, me guiando cada vez mais fundo pra queda e quando quis voltar, já era tarde demais, não existia uma corda para a subida, fiquei preso nos laços do mais profundo dos teus sonhos inertes e me perdi feito um anjo caído na imensidão dos teus abraços de despedidas!"
.
- Eu sou um pouco tímido sempre.

Paloma Amorim