segunda-feira, 22 de junho de 2009

Tédio

Ele tem os olhos fixos, paralisados. A pele tem uma respiração própria, o suor tem o cheiro da inquietude. Freneticamente ele sacode as mãos, para, volta a sacudi-las baixa a cabeça. Agora o olhar é em todos os lugares que seu cérebro pode guardar algum tipo de distrair. Ele espera. Ora como se explodindo, ora com a paciência do resignado Jó, mas a espinha ereta como a de um samurai. Sua tez pulsando à excitação do porvir. Ele sente como se morresse a cada segundo que vai. Ele deseja como nunca o músculo bater em seu corpo como um ponto para ogum. Descansa os ombros. Quer sentir o leve. As pálpebras se dão ao cansaço:
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- Não sei! Fiquei entendiado de repente!
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O corpo inteiro cai pesado e desesperançoso. Mais um vez, a porta se fecha. Incredulidade, raiva e desconfiança. Depois de tantos dias de paz e guerra, de tantas horas e tantos momentos de torpor e esperança.
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"Não sei! Fiquei entendiado de repente!"
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Misturam-se os pensamentos latentes nos corpos correntes derramados na desertidão de cada compartimento. Água e terra, pedra e torrente. Medo, pesar, frustração, expectativas, desejos. Se esvaem as almas. Derramam-se no abandono, no esgotamento, na espera:
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"Não sei! Fiquei entendiado de repente!" se repete na mente dele.
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Raquel Leão & Ives Nelson

Um comentário:

Eli Carlos Vieira disse...

Sufocante.
Remete a muita coisa.
Parece esquizofrenia, distúrbio, crise.
Lembra, sobretudo, o humano, em sua constante dúvida, inquietude e a não satisfação com o que se tem.
Em alguns momentos, vejo ainda a mim mesmo, ariano, ansioso, que agarra algo com a mesma vivacidade com que o descarta, dali a instantes.

Muy bueño, cara!
Abração!